2007/10/25

Os novos de Portocarro
José Mota Capitão está na linha certa, com uma equipa invencível de vinhos 2005

Foi na York House – que bela volta deu Nuno Diniz ao restaurante – que provei os três vinhos de 2005 da Herdade do Portocarro. Juntamente com as Soberanas, fica no Torrão e mostra as Terras do Sado com alma alentejana e perfil atlântico. José Mota Capitão ficou conhecido no ano passado pelo seu “Anima”, um vinho que só pode ser designado “Vinho de Mesa” pela excentricidade de ser Sangiovese em casta estreme, a mesma que está na base dos super-toscanos. Em 2005, surge com outra surpresa, o “Cavalo Maluco”, que passa a ser o topo de gama da casa. Fica um pouco em terra de ninguém o Herdade do Portocarro “standard” que, apesar do que parece, é um bom vinho. Espantou-me sobretudo constatar a enorme competência enológica mostrada por Paulo Laureano.
15,5 Herdade do Portocarro Regional Terras do Sado tinto 2005 – Muito afinado, este vinho mostra ameixa madura e muito vegetal. Está bem feito, cumpre as etapas obrigatórias para os bons vinhos, mas não vinga no final como devia vingar, vindo de onde vem. Há qualquer coisa na “receita” deste vinho que urge afinar. Melhora quando acompanha comida e funcionou bem com o brilhante ossobuco do chefe Diniz. PVP 15 Euros, 7 mil garrafas produzidas. Castas: Aragonês (30%), Alfrocheiro Preto (30%), Cabernet Sauvignon (30%), Touriga Nacional (5%) e Touriga Franca (5%).
18 Herdade do Portocarro Vinho de Mesa Anima – Demora o seu tempo a abrir mas vale a pena esperar. Mostra as notas típicas da casta Sangiovese – ginjas, amoras e alguma hortelã -, aqui muito bem complementadas por muita mineralidade, emprestada pelos solos peculiares do Torrão. PVP 32 Euros, 2.500 garrafas produzidas. Castas: 100% Sangiovese.
18,5 Herdade do Portocarro Regional Terras do Sado Cavalo Maluco tinto 2005 – Homenagem a um chefe índio da tribo dos Sioux, corajoso até ao fim, perante a violência gratuita e vazia de sentido dos pioneiros americanos. José Mota Capitão preferia sempre ser índio em vez de cowboy nas suas brincadeiras de infância com os amigos. Vai dedicar cada edição do Cavalo Maluco a alguém, sendo este primeiro dedicado a Luís da Mota Capitão. O que me apetece dizer sobre este vinho é que nasceu mais um grande vinho português. O aroma é fechado até ao final da prova, mostrando apenas alguns laivos minerais no início, depois sinais evidentes de violetas e cerejas, indiciando fortemente a Touriga Nacional e mais tarde os frutos em compota da Touriga Franca. Depois acaba-se o que temos no copo e voltamos à mesma aventura que é provar este néctar excepcional. A boca é complexa e plena de emoções. O vinho “anda” muito bem ao longo de uma refeição, mostrando sempre novas nuances à medida que o tempo e a oxigenação passam. Final interminável. PVP 28 Euros, 3 mil garrafas produzidas. Castas: Touriga Franca (45%), Touriga Nacional (45%) e Petit Verdot (10%).
Casal da Coelheira à prova
Nuno Falcão criou uma família consistente de vinhos, num Ribatejo que insiste em ser cada vez mais inconsistente.

Fica mesmo ao pé de Santa Margarida, onde os Comandos andam aos tiros e a correr para trás e para diante, a Quinta do Casal da Coelheira. O espaço foi até há bem pouco dos herdeiros do grande industrial metalúrgico – que fez as famosas Berliet para os ditos comandos – chamado Duarte Ferreira. Vicissitudes diversas fizeram com que a casa entrasse em colapso, adquirindo as terras o pai de Nuno Falcão, que deixou os sítios onde trabalhava como responsável agrícola – ele é engenheiro mesmo engenheiro do ISA – para se dedicar ao projecto familiar.
Dá gosto estar com o enólogo no acolhedor espaço de enoturismo, em pleno centro do Tramagal. A sua simplicidade e simpatia deixam muito boas marcas. Eu já o conhecia dos júris de diversos concursos, de provas, eventos e feiras, mas nunca tinha estado na sua casa. É diferente. É qualquer coisa que eu sinto que não podemos deixar nunca de fazer, ir até casa dos produtores e aí falar e provar com eles. A gama de vinhos Casal da Coelheira começa no vinho corrente, com o qual se enchem muitos garrafões dos locais ao fim de semana, logo a seguir fica a marca “Terraços do Tejo” de recorte simpático e preço absolutamente apetecível. Entra depois a marca Casal de Coelheiros e no topo – mesmo topo – da gama está o já mítico Mythos. Deixámos o vinho de garrafão para trás e concentrámo-nos nas duas últimas marcas.
15 Casal da Coelheira DOC Ribatejo branco 2006 – Macio, descomplicado, sentem-se bem as notas do Fernão Pires. É um vinho bom para todos os dias. PVP 2,55 Euros. Castas: Fernão Pires (90%), Chardonnay (5%) e Malvasia (5%)
15 Casal da Coelheira Regional Ribatejo rosé 2006 – Está bem maduro e resulta fresco na boca. Mostra fruta vermelha, principalmente morangos e termina seco, o que o torna apto para a mesa. Fiquei surpreendido quanto o Nuno me disse que é 100% Castelão, a casta injustamente proscrita das vinhas portuguesas mas a partir da qual ainda se fazem bons vinhos, de perfil moderno. PVP 2,70 Euros.
16 Casal da Coelheira DOC Ribatejo tinto 2006 – Aqui está um mix harmonioso feito a partir das Tourigas Franca e Nacional. Aliás, a combinação está a aparecer muito pelo sul de Portugal, tenho dado por uma aposta forte na Touriga Franca. Fresco e maduro, sem nunca pesar, marchou bem com o queijinho que o Nuno trouxe da queijaria artesanal de um amigo dele. Não podemos esquecer o ano desgraçado que foi 2006, pelo que é um feito ter conseguido um vinho pelo menos consensual. PVP 2,85 Euros.
17 Casal da Coelheira DOC Ribatejo Reserva tinto 2005 – Vinho profundo, com garra e raça, fazendo jus ao lado bom da fama do Ribatejo. É vinho com grande aptidão gastronómica, veio-me à cabeça um cabrito assado com pouca gordura como se faz no Cristina, em Abrantes, ali mesmo ao pé. Castas: Touriga Nacional (60%), Cabernet Sauvignon e Touriga Franca. PVP 6 Euros.
18 Casal da Coelheira Mythos tinto 2004 – Quando um vinho começa a limpar concursos, provas e círculos enófilos, e me toca passá-los pelo meu copo sou muito mais exigente do que com os outros. Mas este Mythos correspondeu totalmente às altas expectativas que dele tinha e digo mais, vou pôr seis garrafas na minha cave. Daqui a cinco anos falamos. PVP 12,50 Euros. Castas: Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet.
Premiados à Nascença
Casa de Santa Vitória lança vinhos “Talha de Ouro”

São eles o Casa de Santa Vitória Reserva branco 2006 e o Inevitável tinto 2005 e alcançaram o grau máximo na prova anual dos “Melhores do Alentejo”, promovida pela Confraria dos Enófilos do Alentejo. Estão em lançamento e foram dados a provar num dos muitos hotéis do grupo Vila Galé, proprietário também da Casa de Santa Vitória. Desta feita, aconteceu no Vila Galé Estoril, no restaurante… Inevitável Steak Lounge. Antes de mais, as inevitáveis notas de prova e a indispensável classificação.
16,5 Casa de Santa Vitória Regional Alentejano Reserva branco 2006 – Aromas de madeira algo evidentes, mas sem atrapalhar demasiado o ciclo da prova. Toranja e algumas notas florais, complementadas por toque minerais que lhe acrescentam na harmonia. Boca equilibrada, acídula na entrada, tropical no final. Boa persistência, revelando a untuosidade que lhe acrescenta um lado guloso. Boa companhia para pratos gordos. Lembrou-me, em particular, um arroz de tamboril ou um bacalhau à lagareiro. PVP 9,50 Euros, 6 mil garrafas produzidas. Castas: Chardonnay (60%) e Arinto (40%).
18 Casa de Santa Vitória Regional Alentejano Inevitável tinto 2005 – Aromas de ameixa e azeitona preta. Torna-se atraente pelos complementos de ervas aromáticas secas e ligeiros toques de madeira. Corpo suave, sem pesar, terminando em impressões de ameixa e figos, com notas claras e prolongadas de chocolate. PVP 20 Euros. Castas: Touriga Nacional e Syrah.Bernardo Cabral tinha tudo para fazer o seu trabalho um pouco escondido, mas não foi esse o caminho que escolheu. Em vez disso, criou nos quase 130 ha de vinhas um imenso laboratório e teatro de ensaios, estritamente tirados da sua fantasia enológica. O projecto de Santa Vitória é de concepção de Nuno Cancela de Abreu, mas há que pôr os olhos no jovem Bernardo, que está em Albernôa como peixe na água. Hei-de escrever um pouco mais sobre ele, mas hoje o texto fica-se pelos vinhos.

2007/10/23

Diletantes? Não vão mais longe, têm aqui um!

Acabo de constatar a minha enorme incompetência e a forma desnaturada com que defraudo todos, ao ter um blogue onde não escrevo há um ano!

Mas eu explico: está para ir para o ar o meu site, há tanto tempo que até dói. Mas tenho muitas, mesmo muitas coisas para debitar aqui. Os vinhos e a comida continuam a ser o ponto central da minha vida profissional, com o prejuízo que se vê para o "coté passion".