2006/10/26

Quanto menos conhecido, mais as pessoas notam
As trajectórias concorrentes de vinhos e pessoas

Desde que organizei a "prova dos cultos" no Eleven que uma ideia se me vem sedimentando dentro e que não tem, curiosamente, nada de novo: Uma peça de vinhos com as opiniões dos melhores críticos da especialidade não tem nem um décimo da notoriedade de uma peça de vinhos com testemunhos de famosos.

Então por que não se faz mais "disso"?

Estou sempre a tropeçar em mais um "projecto pessoal" - leia-se secreto, para chegar lá primeiro que os outros - ou em peças que são escritas para dois ou três críticos lerem. "Gostei imenso da tua peça, já era tempo de alguém publicar". Pobre leitor das revistas da especialidade, tantas vezes angustiado a ler aquilo tudo como se fosse sério e fundamental para o seu aperfeiçoamento enófilo!

Na prova dos cultos, as pessoas disseram disparates, como toda a gente diz. Riram e gozaram o programa como toda a gente gosta de gozar. E, mais importante que tudo, enganaram-se. As pontes de contacto com os leitores estão aqui e é este o filão a explorar, para quem quiser ser lido e respeitado por TODOS, produtores, negociantes e público em geral.

Agora temos mais uma revista de vinhos em Portugal que, felizmente, parece estar aí para ficar. É muito bonita, chama-se Blue Wine e está a fazer um trabalho sustentado. Na sua carta de princípios, ou estatuto editorial, podia ler-se, no início do projecto, que se pretendia uma colagem ao comum leitor, para que ele se identificasse com a revista. Isto era dito em clara oposição à Revista de Vinhos que, no dizer do seu staff, "é feita só para o sector". Tudo bem. Eu esperei alguns meses. Até agora.

É que já complicaram tudo. Já querem afirmar que têm o melhor painel de prova e que só eles é que sabem provar. Que diabo os terá tentado, para cairem em tamanho abismo?

Só provam em condições xpto, nunca há provas de vinhos, por exemplo em casa de produtores, em restaurantes, ou salas de provas que não sejam as suas!

Os homens que tinham a chave da comunicação com o pobre leitor, já estão num campeonato de que ninguém quer ouvir falar. Prova cega? Boa! E o que tenho eu a ver com isso? Diga lá mas é se este vinho vale ou não vale o dinheiro que pedem por ele. Diga lá mas é quais são os best-sellers dos vinhos portugueses. Diga lá mas é quais são os restaurantes que mais roubam os clientes e quais os que mais os respeitam, no que toca à carta de vinhos!

Ninguém, mas mesmo ninguém, está empenhado em dar resposta a estas questões e outras cem mais.

É de ir às lágrimas.

Ou de deixar passar.